TECNOLOGIAS NA ESCOLA: MITOS E DESAFIOS
Marisa Elsa Demarchi
Teresinha Kuehn
As tecnologias estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade, da economia e cultura. A escola enquanto parte destes elementos, também incorporou e rejeitou tecnologias ao longo de sua história. Da lousa ao caderno; dos desenhos, fotografias, imagens de televisão, vídeo e DVDs; do quadro de giz ao quadro eletrônico; dos primeiros computadores pessoais – PCs com programa logo, aos computadores com conexão discada, banda larga, wireless...
Entre estas e outras tecnologias, a escola foi se constituindo e por conseqüência o conhecimento passou a ser apropriado de diferentes formas, as relações entre educadores e alunos se transformaram e os espaços da sala de aula se modificaram. No entanto, estas mudanças, não ocorreram de forma homogênea, pois o acesso foi (e ainda é), muitas vezes desigual, especialmente em se tratando de escolas públicas e, ainda nelas, as oportunidades se fizeram de formas diversas, pois como diferentes pesquisadores já apontaram (Bordieu,1997; Frigotto, 2001) conforme as populações que as escolas atendem, há diferenças substanciais também entre elas, geralmente no sentido daquelas que atendem as populações mais carentes serem também as mais pobres em recursos materiais e possuírem educadores com menor formação, menores oportunidades de prosseguirem seus estudos e de participarem de redes de aprendizagens.
Com a ampliação de programas e políticas de inclusão digital nas escolas públicas, fazem-se necessários estudos sobre o papel da tecnologia na escola. Os imensos investimentos em equipamentos, formação de equipes centrais de coordenação e de educadores, programas de incentivo a projetos que utilizam as novas Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs na educação nem sempre tem revertido em grandes avanços na aprendizagem de alunos. As diversas pesquisas já realizadas na área indicam a necessidade de quebrar alguns mitos relacionados à articulação educação e tecnologia. Entre eles os mais conhecidos são:
1. O professor precisa de alguém de apoio para atuar nas salas informatizadas. Em escolas públicas e privadas a prática de se colocar um professor de informática nos espaços das SI, tem se revelado uma forma para os professores “largarem” os alunos com estes funcionários e deixarem suas aulas serem ocupadas por sessões do tipo: “clique aqui, clique ali”, geralmente bastante distanciadas dos conhecimentos trabalhados nas salas de aulas em que os professores atuam. Os alunos, terminada a empolgação inicial da “novidade”, acabam se desinteressando por estas aulas.
2. Um professor que sabe menos tecnologia que seus alunos não pode usar estes espaços de aprendizagem. Muitos professores, no entanto, têm aproveitado a oportunidade de aprender com seus alunos e conseguiram avançar significativamente nos conhecimentos de informática e, especialmente na articulação entre sua área de conhecimento específica e a tecnologia.
3. O aumento no número de computadores nos espaços das SI implica grandes avanços nos trabalhos ali desenvolvidos.Diferentes pesquisadores tem discutido a fragilidade das propostas educacionais com o uso das TICs, apontando para uma freqüente transposição didática nestes espaços, isto é, procura-se copiar o que é feito na sala de aula tradicional, nos espaços com equipamentos.
“[...] a chegada do computador à instituição escolar, facilmente se “adapta” à cultura vigente, sem contribuir para avanços importantes nessa estrutura fragmentada. Ela acaba funcionando mais como maquiagem, ampliação periférica da escola, tal qual uma pequena ampliação que façamos em nossa casa - um quartinho que construímos nos “fundos” - sem que, de fato, a reformemos, removendo os problemas estruturais mais importantes.” (NOVAIS)[1]
Um estudo realizado em São Paulo, (Lima, 2002) com três escolas que receberam computadores através de políticas governamentais indicou que a apropriação da tecnologia na escola depende de uma confluência das seguintes questões: A. Questões físicas; B. Questões financeiras; C. Questões referentes à organização do uso; D. Questões referentes ao desenvolvimento de pessoas; E. Questões pedagógicas e de gestão do conhecimento na escola políticas.
4. O quarto mito é de uma pessoa sozinha dá conta de resolver a questão da articulação tecnologia e educação.
“A prática de trabalho dos professores, usualmente bastante isolada nas salas de aula, dificulta sobremaneira a criação de uma cultura de colaboração; por isso, há necessidade de o gestor planejar a existência de momentos de troca de experiências entre professores (e funcionários)”. ( VIEIRA)[2]
4. O aluno precisa primeiro aprender informática para depois, trabalhar na SI.
Não faz sentido com a grande velocidade de inovações tecnológicas se impor aos alunos, ou mesmo aos educadores, a necessidade de “saber” informática para então usar tecnologia educacional. A aprendizagem nas SIs deve ser feita através da “usabilidade”, isto é, a medida que o aluno vai necessitando de conhecimentos de diferentes programas para realizar atividades, vai aprendendo-as simultaneamente com a sua execução.
5. Os professores de faixa etária mais avançada não aprendem a lidar com as novas TICs. Vários estudos demonstram que pessoas com idade mais avançada não tem restrições à aprendizagem de informática. Suas “dificuldades” estão relacionadas ao período de familiarizar-se com os termos, o manuseio de mouse e teclado. Uma vez vencidos estes obstáculos iniciais revelam-se internautas criativos, autônomos e que trazem os seus conhecimentos de outras áreas para o trabalho no computador. Pesquisas realizadas por revelam que:
“Estudos que comparam jovens, adultos e idosos na interação com a máquina apontam a importância do dimensionamento de estratégias de ensino e aprendizagem delineadas de acordo com as características e condições da população, respeitando o ritmo e tempo de aprender, as limitações físicas (auditivas e visuais) e cognitivas (memória, atenção), etc. em lidar com equipamentos”.
(KACHAR, 2001).
6. Os alunos estragam os equipamentos, por isso precisam ser “vigiados” nestes espaços.
Aulas excessivamente dirigidas acabam contribuindo muito pouco para o desenvolvimento da aprendizagem. Em lugar de controle e programas de monitoramento e bloqueio de sites, propostas de trabalhos que permitam autoria, criação, compartilhamento e troca de conhecimentos. Danos a equipamentos, instalação de programas inadequados ao contexto escolar, geralmente ocorrem quando as aulas são realizadas de forma a não interessar o aluno, com navegações excessivamente dirigidas, ou totalmente livres, sem nenhuma orientação.
As tecnologias na escola merecem ser objeto de reflexões, estudos e pesquisas. Gestores, professores, alunos e comunidade necessitam construir autonomia em relação ao seu uso. Muitos mitos precisam ser quebrados e muitos desafios se apresentam para as comunidades escolares. Quando isto ocorrer, a tecnologia poderá representar não apenas um discurso de inovação, mas, acima de tudo, um grande avanço nas formas de ensinar e aprender.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. A Miséria do Mundo. Petrópolis: Vozes, 1997.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A Produtividade da escola improdutiva: um (re) Exame das Relações entre Educação e Estrutura Econômico–Social Capitalista. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
KACHAR, Vitória.Tecnologia e inclusão: A terceira idade e a Inclusão digital. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/te/tetxt5.htm. Data de acesso: 15/05/2006
Lima, Elaine Leite de. Escolas aprendem com a tecnologia. Curso: Gestão Escolar e Tecnologias. Disponível em: http://www.gestores.pucsp.br/. Data de acesso: 15/05/2006.
Lima, E. O processo de apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação pela escola pública de São Paulo – Um estudo sobre inovação tecnológica e aprendizagem nas organizações. 2002. Dissertação (Mestrado em Administração). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.
NOVAIS, Vera Lúcia Duarte de. As TICs chegam à escola. Como entrar pela porta da frente? Curso: Gestão Escolar e Tecnologias. Disponível em: http://www.gestores.pucsp.br/. Data de acesso: 15/05/2006.
VIEIRA, Alexandre Thomaz. Funções e Papéis da Tecnologia. Gestão Escolar e Tecnologias. Disponível em: http://www.gestores.pucsp.br/. Data de acesso: 15/05/2006.
[1]Disponível em : http://www.gestores.pucsp.br/. Data de acesso: 15/05/2006.
[2]Disponível em: http://www.gestores.pucsp.br/. Data de acesso: 15/05/2006.
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